Câncer de mama: avanço no diagnóstico
Estudo da Universidade Federal do Ceará
descobre outro caminho para rastrear metástase do câncer de mama. Em
fase de testes com seres humanos, a pesquisa já contribui para o
tratamento.
Para vencer o inimigo é preciso conhecê-lo, saber onde ele se
esconde. E, em se tratando de câncer de mama, o mal pode estar restrito
ao seio (é o que a medicina chama de crescimento local) ou se
desenvolver também na axila (crescimento locorregional) e ir além,
alojando-se em ossos, pulmões, fígado e até cérebro (metástase à
distância). Pesquisa do Grupo de Educação e Estudos Oncológicos da
Universidade Federal do Ceará (Geeon-UFC) segue os passos do câncer de
mama e descobre um caminho que avança no diagnóstico. Em fase de testes
com seres humanos, o estudo já contribui para o tratamento da doença que
mata 35% dos pacientes com câncer de mama tratados no Hospital das
Clínicas (HC).
A pesquisa do Geeon-UFC rastreia o
linfonodo sentinela, espécie de gânglio linfático - imagine um canal de
passagem para a primeira metástase. Para alcançá-lo a tempo de menos
mutilações, antes que as células cancerígenas sigam para a axila,
corantes e substâncias radioativas são comumente usados na identificação
do linfonodo . Na contramão dessa investigação do gânglio podem
acontecer reações alérgicas, “inclusive, fatais”, e se ter um custo
“muito alto, em torno de R$ 800 (exame)”, pondera o médico Luiz Gonzaga
Porto Pinheiro, presidente do Geeon-UFC.
Em par com o médico
Paulo Henrique Diógenes Vasques, Porto coordena o estudo que descobriu
um meio mais seguro e barato de investigar o linfonodo sentinela.
Utilizando um derivado do sangue da própria paciente, os especialistas
perceberam que o linfonodo sentinela é marcado da mesma maneira de
quando se usam os corantes ou radioativos.
A conclusão veio
com a repetição do método em 30 cadelas, durante 18 meses (entre 2010 e
2011). Foi o primeiro estágio da pesquisa, já reconhecido em publicações
internacionais – a exemplo do site norte-americano Tree of Medicine
(www.treeofmedicine.com).
Este ano, com financiamento do Banco
do Nordeste e autorização do Comitê de Ética em Pesquisas com Seres
Humanos, o Geeon iniciou os testes em mulheres. São oito pacientes, “até
agora, com resultados satisfatórios”, informa Luiz Porto. O novo
rastreador, derivado do sangue, vem se confirmando eficiente e ainda dá
carona a outra boa notícia: “Além dele marcar colorido, também ativa o
linfonodo para ser detectado por ressonância nuclear magnética. No
futuro, não será mais necessário tirar o linfonodo (para biópsia); será
detectado pelo exame de ressonância”, projeta Porto.
A
pesquisa em seres humanos precisa de, pelo menos, três vezes mais
pacientes para se validar. A previsão de Luiz Porto é que se alcancem os
números entre seis meses a um ano. Em 2012, estima o médico, 200 novos
casos de câncer de mama devem surgir para atendimento no HC: “Dá uma
média de 15 casos novos por mês. Desses, pelo menos 2 casos se prestam
para pesquisa. Então, esperamos que, em um ano, façam 24 casos”.
A
investigação do linfonodo sentinela é significativa na fase inicial da
doença. O teste vai dizer ao médico “se a axila está livre, ou não”,
explica Luiz Porto. “Se a paciente não tem metástase axilar, a chance de
cura é maior”, completa. E isso vai se refletir também em menores
mutilações e menos consequências. O esvaziamento da axila pode provocar,
por exemplo, surtos de erisipela (infecção da pele) ou inchaços no
braço.
A pesquisa do Geeon-UFC une esforços para um
tratamento menos doloroso do câncer de mama. Por se valer de um derivado
do sangue da paciente, “o risco de haver uma reação é mínimo”, ratifica
Luiz Porto. Mas lembre-se: para vencer o inimigo, é preciso conhecê-lo.
“O objetivo principal da medicina é levar o diagnóstico para a fase
inicial. Porque as mutilações serão menores, a curabilidade é muito mais
alta e o sofrimento da paciente é muito menor”, reforça o médico, a
importância do diagnóstico precoce.
Quem
ENTENDA A NOTÍCIA
Mulheres
têm maior predisposição para o câncer de mama e devem realizar exames
preventivos como rotina. Mas estima-se que, para cada 119 casos fatais
em mulheres, morra um homem com a doença. Uso abusivo do álcool e de
hormônios femininos dispara o problema no sexo masculino.
Saiba mais
Nódulos nos seios podem
ser percebidos pelo exame do toque (ou autoexame). O melhor período
para o autoexame é uma semana após a menstruação. Exame clínico,
mamografia e ultrassonografia, realizados pelo médico, dão diagnósticos
mais precisos do câncer de mama. A periodicidade varia de seis meses a
um ano, considerando-se os fatores de risco.
O médico Luiz Porto,
uma das referências na área de mastologia, lembra os fatores de risco
do câncer de mama: idade (a partir de 50 anos, toda mulher é do grupo
de risco), história familiar (ter parentes em primeiro grau com a
doença), não ter filhos ou tê-los depois dos 30 anos, não amamentar,
tomar hormônios (reposição hormonal) ou anticoncepcional de forma
abusiva (sem orientação médica e por mais de cinco anos), obesidade,
sedentarismo e álcool em excesso.
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