É importante ressaltar que não se trata de um fenômeno hereditário, apesar de
ocorrer alteração no DNA destas células
O termo “leucemia” deriva das palavras gregas “leukos”, que significa
“branco”, e “haima”, que significa “sangue”, gerando a expressão “weisses blut”
ou “white blood” (sangue branco) para designar o distúrbio. Ou seja, a leucemia
é uma doença maligna dos glóbulos brancos (leucócitos), que se origina de
alterações genéticas adquiridas - não congênitas - produzidas na medula óssea.
É importante ressaltar que não se trata de um fenômeno hereditário, apesar
de ocorrer alteração no DNA destas células.
Os tipos de leucemia
As leucemias se dividem nas categorias mieloide (ou mielocítica – quando a
origem se dá em outros tipos de glóbulos brancos, como granulócitos e
monócitos) e linfóide (ou linfocítica, cuja origem se dá nos linfócitos), em
relação ao tipo de célula envolvida no desenvolvimento da doença. Estas se
subdividem nas formas aguda ou crônica.
Assim, existem quatro tipos principais de leucemia:
1- Leucemia Mielocítica Aguda (LMA)
O que é LMA?
A leucemia mieloide aguda (LMA) é o resultado de uma
alteração genética adquirida (não herdada)
no DNA de células mieloides (subtipo
de glóbulos brancos) em desenvolvimento na medula óssea.
A leucemia mieloide aguda pode se desenvolver a
partir das células pluripotentes em vários estágios de desenvolvimento. Os
mieloblastos são células que perderam a capacidade de diferenciação, mas mantém
a capacidade de multiplicação. Os principais subtipos estão descritos abaixo, e
os exames realizados para estabelecer o diagnóstico nos mieloblastos leucêmicos
são: citoquímica, imunofenotipagem e biologia molecular.
2- Leucemia Mieloide Crônica (LMC)
O que é LMC?
A leucemia mieloide crônica (também chamada de leucemia mielogênica crônica)
é um tipo de câncer que afeta as células mieloides (subtipo de glóbulos
brancos) presentes na medula óssea.
A medula óssea é responsável pela produção de todas as células do sangue do
nosso corpo, subdivididas em glóbulos vermelhos (hemoglobina), plaquetas e
glóbulos brancos. Os três principais tipos de glóbulos brancos são
granulócitos, monócitos e linfócitos e, no caso específico deste tipo de
leucemia, as células anormais (malignas) se desenvolvem nas que dão origem aos
granulócitos e monócitos, também conhecidas como células mieloides.
Essa alteração no DNA das células mieloides proporciona uma vantagem às
células malignas em termos de crescimento e sobrevivência, pois as células
doentes passam a ter maior sobrevida do que os glóbulos brancos normais, que
continuam em produção. Diferente da leucemia mieloide aguda, a leucemia
mieloide crônica permite o desenvolvimento de outras células normais na medula
óssea, sendo essa a explicação para a progressão menos severa da doença.
Essa doença acomete principalmente adultos. A frequência da doença aumenta
com a idade, passando de aproximadamente um caso a cada 1 milhão de crianças
nos primeiros dez anos de vida, um caso em cada 100 mil indivíduos aos 50 anos
e a um caso em cada 10 mil indivíduos acima de 80 anos. O comportamento da
doença em crianças e adultos é similar, no entanto, o resultado de um
transplante de células-tronco hematopoéticas (TCTH) é melhor em indivíduos mais
jovens.
A LMC distingue-se de outras leucemias pela presença de uma anormalidade
genética nas células doentes, denominada cromossomo Philadelphia. As alterações
que fazem com que esse cromossomo venha a “causar” a leucemia mieloide crônica
têm sido estudadas intensivamente. Em 1960, dois médicos que estudavam
cromossomos em células cancerígenas notaram que um dos cromossomos em pacientes
com leucemia mieloide crônica era mais curto que o mesmo cromossomo em células
normais. Eles o denominaram cromossomo Philadelphia (Ph), porque o fato foi
observado na faculdade de Medicina da Universidade da Pensilvânia.
Estudos estabeleceram que dois cromossomos, os de número 9 e 22, são
anormais, isto é, os segmentos rompidos dos cromossomos das células sanguíneas
de pacientes com leucemia mielóide crônica se intercambiam e a porção destacada
do cromossomo 9 se prende à extremidade do cromossomo 22, e a porção destacada
do cromossomo 22 se prende à extremidade do cromossomo 9. Esse intercâmbio
anormal de partes dos cromossomos é denominado translocação. Essa translocação
ocorre somente nas células sanguíneas derivadas dessa célula doente. Os
cromossomos das células nos outros tecidos são normais.
Na leucemia mieloide crônica, a proteína produzida pelo gene BCR-ABL (gene
translocado) é uma enzima anormal denominada tirosino quinase. Evidências
consideram essa proteína anormal, a causa da conversão leucêmica da
célula-tronco hematopoética. Essa proteína mutante é o alvo de tratamentos
medicamentosos específicos (terapia alvo), que visam bloquear seus efeitos.
3- Leucemia Linfocítica Aguda (LLA)
O que é LLA?
A LLA é o
resultado de um dano genético adquirido (não herdado) no DNA de um grupo de
células (glóbulos brancos) na medula óssea. As células doentes substituem a
medula óssea normal. Os efeitos são o crescimento incontrolável e o
acúmulo das células chamadas de “linfoblastos” (linfócitos imaturos) que perdem
a capacidade de funcionar como células sanguíneas normais, levando a um
bloqueio ou mesmo diminuição na produção de glóbulos vermelhos, plaquetas e
glóbulos brancos na medula óssea.
Com a
redução da hematopoese, que é o sistema responsável pela produção das células
sanguíneas na medula óssea, o organismo passa a apresentar alguns sinais e
sintomas como anemia, manchas roxas, febre e/ou outros sintomas de infecção,
dentre outros.
4- Leucemia Linfóide Crônica (LLC)
O que é
LLC ?
A
leucemia linfóide crônica resulta de lesão adquirida (não hereditária) no DNA
de uma única célula, um linfócito, na medula óssea. A lesão no DNA da célula
confere a ela maior capacidade de crescimento e sobrevivência, tornando-a
anormal e maligna (leucêmica). O resultado desse dano é o crescimento
descontrolado de células linfóides na medula óssea, levando invariavelmente ao
aumento do número de linfócitos no sangue.
Nas
leucemias crônicas não há o impedimento da formação de células normais na
medula óssea, por isso, células leucêmicas (com DNA danificado e de crescimento
lento) e normais convivem ao mesmo tempo, o que explica a evolução mais lenta
da leucemia linfóide crônica.
A leucemia aguda é uma doença de progressão rápida, que afeta a maior parte
das células que não estão formadas completamente (células jovens). Estas
células doentes (denominadas de “blastos”), não conseguem realizar suas funções
normais, multiplicando-se de forma incontrolável na medula óssea e
comprometendo o sistema de defesa do organismo.
Já a leucemia crônica progride lentamente e permite o crescimento de um
maior número de células diferenciadas que, em geral, conseguem realizar algumas
de suas funções normais no organismo do paciente. Por isso mesmo, a princípio
os sintomas são brandos, agravando-se gradualmente.
A habilidade do diagnóstico levou ao conhecimento das características
específicas adicionais das células blásticas (ou blastos), bem como ao
conhecimento dos diversos subtipos de leucemia. Essas categorias permitem ao
médico decidir sobre o melhor tratamento para cada subtipo específico de
leucemia, denominado protocolo.
Para saber mais
Para melhor entender esta doença é importante compreender o sistema
sanguíneo e seus componentes
celulares: glóbulos vermelhos, glóbulos
brancos e plaquetas; a função da medula óssea e do sistema linfático.
O sistema sanguíneo, linfático e a medula óssea
Condições normais do sangue
O sangue é composto por plasma, água e células suspensas formadas pelos
glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e as plaquetas.
Os glóbulos vermelhos são células sanguíneas que carregam hemoglobina
(proteína), cuja função é transportar oxigênio para todos os tecidos do
organismo e transportar de volta o gás carbônico, fruto da atividade celular.
Também conhecidos como hemácias ou eritrócitos, os glóbulos vermelhos
constituem em torno de 45% do volume do sangue em indivíduos saudáveis.
Os glóbulos brancos ou (leucócitos) formam nosso sistema de defesa e são
também denominados fagócitos, ou células “comedoras”, por “ingerirem” bactérias
ou fungos, ajudando a destruí-los. Assim, eles saem do sangue e vão para os
tecidos, local em que consomem bactérias ou fungos invasores, auxiliando na
cura de infecções.
Os eosinófilos e os basófilos são subtipos de glóbulos brancos que
participam da resposta a processos alérgicos. Já os linfócitos, outro tipo de
glóbulos brancos, se encontram nos gânglios e canais linfáticos, no baço,
amígdalas e adenóides, revestimento intestinal e tórax. Outros tipos de
leucócitos são os neutrófilos e monócitos.
á as plaquetas são pequenos fragmentos de sangue (em torno de um décimo do
volume dos glóbulos vermelhos) que aderem ao local onde um vaso sanguíneo foi
lesionado, se agregam uns aos outros, vedam o vaso sanguíneo e interrompem o
sangramento.
Condições normais da medula óssea
A medula óssea é um tecido esponjoso que ocupa a cavidade central do osso,
local em que ocorre o desenvolvimento de células maduras que circulam no
sangue. Todos os ossos apresentam medula ativa ao nascimento. Entretanto,
quando a pessoa alcança a idade adulta, a medula óssea fica ativa nos ossos das
vértebras, quadris, ombros, costelas, esterno e crânio, sendo capaz de produzir
novas células sanguíneas, processo chamado de hematopoese.
Um pequeno grupo de células, denominadas células-tronco, é responsável por
produzir todas as células sanguíneas no interior da medula óssea.
E quando as células hematopoéticas estão completamente maduras (com
capacidade de funcionamento), deixam a medula óssea em direção ao sangue, no
qual desempenham diversas funções.
Em indivíduos saudáveis, existem células-tronco hematopoéticas suficientes
para que haja produção contínua das células sanguíneas. Os glóbulos vermelhos e
as plaquetas tomam suas respectivas funções na circulação, que são levar
oxigênio e sanar vasos sanguíneos feridos. Os neutrófilos, eosinófilos,
basófilos, monócitos e linfócitos, que coletivamente formam os glóbulos brancos
do sangue, possuem a habilidade de se locomoverem até os tecidos para proteger
o organismo contra infecções.
O sistema linfático
O sistema linfático e a medula óssea estão intimamente relacionados. Os
linfócitos são as principais células constituintes do sistema linfático e a
maioria encontra-se nos gânglios linfáticos e em outros locais, como a pele,
baço, amígdalas e adenóides, revestimento intestinal e tórax. Os linfócitos
circulam por meio dos vasos linfáticos, que se conectam aos gânglios linfáticos
espalhados por todo o corpo.
Existem três tipos de linfócitos: os linfócitos B, que produzem anticorpos
em resposta a antígenos externos; os linfócitos T, que possuem várias funções,
dentre elas a de auxiliar os linfócitos B na produção de anticorpos, que se
anexam aos micróbios e as células exterminadoras naturais, ou células NK (de
“natural killer”, do inglês) que formam o terceiro tipo de linfócito e recebem
esse nome porque têm uma função natural de atacar as células infectadas por
vírus, sem precisarem de anticorpos ou de outro intermediário.
Entretanto, as células linfóides podem sofrer uma mutação no DNA, se tornar
células leucêmicas, se proliferar, tomar a medula óssea (dificultando a
formação de novas células – hematopoese), passar para o sangue e atingir outros
órgãos.
Fonte: abrale.org.br