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terça-feira, 1 de julho de 2014

Amor vira 'remédio' contra o câncer

Histórias como do best-seller 'A Culpa é das Estrelas' mostram como é importante ter afeto durante tratamento

Fernanda e José Lucas: no meio da dor, o amor. Foto: Arquivo pessoal

O filme “A Culpa é das Estrelas”, baseado no best-seller homônimo do escritor norte-americano John Green, tem levado legiões de espectadores aos cinemas. O longa-metragem já arrecadou cerca de US$ 170 milhões desde a sua estreia no último dia 6.
No enredo, Hazel e Augustus, dois adolescentes com câncer que se conhecem em um grupo de apoio a pessoas com a doença, começam a namorar.
A história parece um pouco improvável na “vida real”, mas não é impossível. Fernanda Bernini Penão, 23 anos, é prova disso. Ela foi diagnosticada com câncer em agosto de 2012 e conheceu seu namorado, José Lucas da Silva, 18 anos, nove meses depois.
“Eu falo que ele é meu anjo. Quando eu estou mal, triste, com dor, e ele chega, tudo passa”, afirma.
Fernanda é de Taiaçu, a 91 quilômetros de Ribeirão Preto, e está em tratamento no Hospital de Câncer de Barretos. Ela conta que foi paixão à primeira vista. Em maio de 2013, José Lucas, que é de Monte Alto, esteve em Taiaçu em um encontro de jovens da igreja que Fernanda frequenta. Ela o adicionou no Facebook e eles passaram a trocar mensagens. Em setembro, começaram a namorar.
“Um dia ele pediu para eu tirar a peruca. Fiquei sem graça e neguei, mas ele puxou e viu minha careca. Falou que eu era linda de qualquer jeito. Depois disso, parei de usar peruca”, recorda.

Apoio da família
Isabella superou um Linfoma de Hodgkin com o apoio da família e dos amigos. Foto: Arquivo pessoal

E não é só o amor de namorado que ajuda no tratamento da doença. Para Isabella Miranda, 23 anos, foi com o apoio da família e dos amigos que ela conseguiu superar um Linfoma de Hodgkin, uma forma de câncer que se origina nos linfonodos (gânglios) do sistema linfático.
Isabella descobriu a doença em março de 2013, mesmo sentindo um caroço em seu pescoço desde junho de 2012. “Os médicos falavam que era um gânglio que estava inflamado por causa de uma gripe, mas ele [caroço] foi aumentando e, em março de 2013, tive paralisia facial”, relata.
De volta ao médico, fez uma biópsia e obteve o diagnóstico de câncer.
Passou por sessões de quimio e radioterapia. “Como a quimioterapia faz cair muito a imunidade, eu não podia frequentar lugares com muitas pessoas, então quase não saía de casa e, por ficar muito tempo sozinha, o que me animava era a minha família, além de visitas frequentes de meus amigos, que me distraiam, me animavam e me faziam sentir uma pessoa muito querida”.

Alívio
A psico-oncologista Cristiane Corsini Prizanteli, responsável pelo Serviço de Psicologia do Hospital de Câncer de Ribeirão Preto - Fundação SOBECCan, destaca que o relacionamento amoroso pode propiciar um alívio emocional durante o tratamento, na medida em que a pessoa compartilha seus medos, angústias, frustrações e alegrias.
“Não se trata de ‘superar a doença’, mas de ajudar essa pessoa a conviver melhor com o tratamento, ao transmitir sentimentos de esperança, solidariedade, compartilhando momentos do tratamento”, observa.
Segundo a psicóloga Érika Arantes de Oliveira-Cardoso, da Unidade de Transplante de Medula Óssea do HCFMRP-USP (Hospital das Clínicas da faculdade de Medicina de Ribeirão Preto) e do Departamento de Psicologia da FFCLRP-USP (faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto), após a descoberta de uma doença grave como o câncer, o paciente fica fragilizado emocionalmente.
“Ele precisa lidar com a necessidade de um tratamento severo e com os conhecidos e desagradáveis efeitos colaterais, necessitando se afastar das atividades escolares, sociais e ocupacionais. Nesse momento, a presença de pessoas emocionalmente significativas para eles é, sem dúvida, um diferencial, no enfrentamento desta situação”.

Fundamental
Alexandre conta com o apoio da mãe, Mara: carinho essencial. Foto: Matheus Urenha/A Cidade

A presença da família e dos amigos também tem sido fundamental para Alexandre Castanheira Monteiro, 22 anos. Em 2006, ele começou a se cansar muito durante os treinos de kung fu e tênis. Passou a mancar e ficou estrábico. Preocupados, os pais procuraram ajuda. Os exames, no entanto, não acusavam alterações neurológicas.
Algum tempo depois, um tumor foi constatado dentro do tronco cerebral.
Devido ao local do tumor, perto da medula, os médicos disseram que Alexandre não poderia ser operado, sob o risco de perder os movimentos e a visão. A família optou, então, por tratamentos alternativos.
Em 2009, ele começou a usar muletas. As pernas não mais o obedeciam. No ano seguinte, o tumor aumentou e o que parecia ser uma má notícia se tornou uma fonte de esperança.
O tumor expandiu para uma área fora de risco e permitiu que uma biópsia fosse feita, confirmando a neoplasia maligna. Isso possibilitaria um tratamento mais certeiro.
A biópsia, entretanto, deu origem a um edema, que comprometeu os movimentos de Alexandre. “Eu falava para ele ‘vamos olhar para frente, acredite no inacreditável’”, lembra Mara Castanheira Monteiro, 55 anos, que parou de trabalhar para se dedicar integralmente ao filho.
Entre idas e vindas, Alexandre fez radio e quimioterapia, perdeu os cabelos, o paladar e o bigode, mas também fez cursinho, passou no vestibular e começou a cursar informática biomédica na USP (Universidade de São Paulo). A faculdade teve que ser interrompida por duas vezes, mas Alexandre segue lutando sem se revoltar. “Se eu soubesse que ia acontecer tudo isso, eu teria feito um monte de coisa”, afirma. “Mas eu acho que vou melhorar”, aposta.
Mais forte
“Você se sente tão protegido quando é amparado pela família que para de pensar que vai morrer”, comenta Mara Lucia Donaire dos Santos, 53 anos. Ela não sabe como teria sobrevivido ao câncer de mama sem a ajuda da família.
Mara sentiu pontadas no peito no final de abril do ano passado. Descobriu um caroço no seio esquerdo, fez tomografia, biópsia e passou por cirurgia. Tirou a mama esquerda e um pedaço da mama direita.
Segundo ela, a queda do cabelo decorrente da quimioterapia incomodou mais do que a falta do seio. Antes de o cabelo cair, ela já raspou a cabeça e colocou peruca. “Eu estava com tanto medo de morrer que não me importei com isso [ausência do seio]”.
Mara acredita que a doença uniu a família. Seu marido tirou licença do trabalho e os filhos, que moram fora, passaram a voltar para casa com mais frequência. “Eu não consigo imaginar o que uma pessoa faria sem a família em uma situação dessas”.
Fonte: jonalacidade


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